Para todo mundo
Leticia de Castro
No início eram os blogs. Depois fotologs, messenger, orkut. Agora, a última novidade entre os jovens antenados, que gostam de mostrar o que pensam e passam horas na rede, são os podcasts, programas de rádio gravados pelos próprios internautas, com músicas e comentários, disponibilizados na internet.
Com uma idéia na cabeça, um computador e um microfone na mão, qualquer um pode ter o seu podcast. Não é necessário muito conhecimento de tecnologia nem um estúdio de gravação sofisticado.
Os podcasters (como são chamados aqueles que produzem podcasts) gravam seus programas em computadores domésticos, usando apenas um microfone e um programa de edição de áudio (como o Audacity, cujo download é gratuito).
Joildo Santos, 20, estudante de ciências da computação, começou a produzir seu podcast em setembro do ano passado. Ele é responsável pelo "Cafofo Podcast", que trata de política e tecnologia.
"Eu adoro política, mas ninguém agüenta discutir esse assunto comigo, porque tenho opiniões muito definidas e sempre as defendo com argumentos. Então, criei o podcast para poder falar livremente, dar opiniões, analisar o noticiário", diz Joildo.
Além de atualizar seu programa semanalmente, ele também acompanha vários outros podcasts. "A grande vantagem é que eu posso ouvir a hora que eu quiser, ele fica armazenado no meu computador e eu não preciso ficar preso à programação das rádios, aos jabás", afirma.
A liberdade de poder falar o que bem entender foi o que atraiu o estudante Lucas Amorim, 18 anos, para o mundo dos podcasts. Em outubro do ano passado, em plena reta final do vestibular para o curso de medicina, ele criou o "Língua Presa".
Sem papas na língua, Lucas discorre sobre os mais diversos assuntos em seu programa. Já dedicou edições à banda inglesa Joy Division, ao cineasta francês Luc Besson. Até o filósofo alemão Emmanuel Kant (1724-1804) teve vez na atração.
"Os temas podem vir de algo besta, meio aleatório, ou de coisas interessantes que eu leio", conta Lucas, que, diferentemente de Joildo, não costuma ouvir outros podcasts.
"Eles são muito repetitivos, chatos, são poucos os que têm um porquê de existir", afirma o hoje "antipodcaster".
Mesmo assim, ele vê vantagens na nova mídia. Para produzir seu programa, Lucas foi procurar músicas que eram autorizadas para execução em podcasts, sobre as quais não incidem direitos autorais, a maioria de bandas independentes. "Depois que comecei a fazer o meu e conhecer outros podcasts descobri várias bandas independentes muito legais, que eu não conhecia", diz.
Sites como podsafeaudio.com e pods how.com trazem opções de músicas para quem não quer ter problemas com gravadoras ou o Ecad (Escritório Central de Arrecadação de Direitos Autorais).
Conhecer e divulgar bandas brasileiras independentes é o objetivo do estudante Felipe Dalanezi, 17, criador do programa "Independência", no ar desde setembro do ano passado.
Fã de rock brasileiro independente, ele saiu à caça de um programa especializado nesse tema, assim que descobriu o mundo dos podcasts. "Como não encontrei nenhum que tratasse do assunto, decidi criar o meu", afirma Felipe, que teve de vencer a timidez para colocar o programa no ar.
A palavra podcast vem da junção de iPod (o tocador de MP3 da Apple) com broadcast (radiodifusão, em inglês). Mas para ouvir os programas não é necessário ter o famoso aparelho da Apple. É possível ouvir diretamente no computador ou em tocadores de MP3 de qualquer marca.
A novidade surgiu em meados de 2004, pelas mãos do norte-americano Adam Curry, ex-VJ da MTV. Ele criou um dos primeiros podcasts e o software iPodder, que reúne programas do mundo inteiro.
Apesar de ainda não ser tão conhecido no Brasil, o podcast já tem um público fiel e engajado, que está criando a Associação Brasileira de Podcasters.
Joildo é um dos envolvidos no projeto. "Queremos regulamentar os podcasts, criar uma política para o recolhimento de direitos autorais, não queremos ficar na ilegalidade", afirma.
Atento ao fenômeno que começa a ganhar fôlego no país, o Ecad começou a mapear os podcasts brasileiros há seis meses para recolher os direitos autorais das músicas executadas. Até o momento, doze podcasters foram contatados e estão negociando o pagamento com a entidade.
Educação
Mas os podcasts não servem apenas para diversão. No Brasil, já há educadores interessados nos recursos que os programas podem trazer para a sala de aula.
No Paraná, o professor Eziquiel Menta criou um projeto para ensinar alunos do ensino médio a criarem podcasts. "É uma oportunidade para discutirmos os direitos autorais com os jovens, além de dar o treinamento em tecnologia", afirma Menta.
Em São Paulo e no Rio de Janeiro também já existem projetos educacionais envolvendo essa nova tecnologia.
Folha de S.Paulo - 13/02/2006
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